CAPITULO V
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A realeza de Dona Izabel Maria simplificava as cousas do lado liberal, mesmo porque, como escrevia A' Court a Canning,[1] «o nascimento do herdeiro do imperio brazileiro (o futuro Dom Pedro II) era considerado em Lisboa como de natureza a facilitar os arranjos relativos á successão, suppondo-se que o Imperador não mais se opporia a mandar a primogenita ser educada em Lisboa como a futura esposa de Dom Miguel e succeder opportunamente na regencia ou na corôa consoante o caso (as may hereafter happen) ».

A regente entretanto queixava-se de que a queriam reduzir a zero, dissimulando-lhe os negocios de importancia e exigindo sua assignatura em papeis de que ella não approvava o theor. O proprio Arcos mudara depois que reconhecera certa inclinação das cortes européas continentaes por Dom Miguel que de começo apenas se podia presentir. De facto ao que A' Court relatava[2], a França a principio tendeu para a abdicação immediata do Imperador em favor de Dom Miguel, de preferencia a uma abdicação futura em favor de Dona Maria da Gloria, dando como razão o inconveniente e perigo d'uma regencia. É verdade que o encarregado de negocios d'Austria recebera instrucções para adherir em tudo e por tudo aos passos de A' Court (follow my stèps, escrevia este) no espirito de apoiar a regencia, declarando se viesse a dar-se sua queda (overthrow), que cessavam seus poderes e funcções uma vez que o embaixador britannico julgasse a proposito dar-lhe o exemplo.

Com vistas a agradar ao infante proscripto, o conde dos Arcos chegara até a propor no conselho de regencia que fosse levantada a pena de banimento decretada contra o marquez d'Abrantes — «o proprio que sem a menor duvida (beyond all doubt) assassinou o marquez de Loulé no palacio real de Salvaterra, quasi na presença d'El-Rei»[3]. Cadaval ia no encalço de Arcos e deixavam-na só — dizia Dona Izabel Maria ao embaixador britannico. Por seu lado o conselho queixava-se de que a infanta quizesse assumir as faculdades de unica encarregada da regencia, induzida a tanto por uma camarilha que lhe propinava idéas revolucionarias e azedava suas desconfianças de certas pessoas da familia, ao mesmo tempo que abusava da sua inexperiencia para extorquir dotações, quando a politica que se impunha era a das economias.

  1. Despacho de 20 de Fevereiro de 1826, B. R. O., F. O.
  2. Despacho de 26 d'Abril de 1826, B. R. O., F. O.
  3. Despacho secreto e confidencial de 29 de Maio de 1826, B. R. O., F. O.