CAPITULO IX
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a prolongação da mesma paz. Eis de resto como o embaixador entendeu suas instrucções: «Fico agora sabendo pelo vosso despacho — escrevia elle a Canning[1] — que devo fornecer aos projectos do Imperador esse apoio moral que deve resultar da communicação dos sentimentos favoraveis do meu governo e da sua recommendação de immediata execução. Conservar-me-hei estrictamente aquem d'esta linha, a qual não excede as attribuições do representante de um antigo e fiel alliado, e o meu proceder não será, espero, considerado ultrajante por esta nação ciosa e inquieta. Na sua qualidade de commissario imperial Sir Charles Stuart terá a desempenhar papel diverso e a fazer uso de uma ingerencia mais activa: mas não será como auctoridade britannica e sim como auctoridade portugueza[2]. Penso que será importante para mim ter constantemente em vista esta distincção positiva entre o seu caracter e o meu ».

Segundo o embaixador, todos os partidos politicos de Portugal encaravam da mesma forma o fiel alliado britannico, cuja divisão naval permanecia ancorada no Tejo como a expressão viva d'essa acção de pacificador, de guarda ou de arbitro. A posição tornar-se-hia extremamente confusa, um grande ponto de interrogação desenhar-se-hia no horizonte com relação á conveniencia do prolongamento da tutela ingleza, se Dom Miguel tomasse as redeas do poder por um golpe de mão, sem solicitar a confirmação do seu direito aos representantes da nação reunidos segundo as antigas praxes, e sem fazer concessões á opinião publica, a d'aquelles que não esposavam suas idéas ou seus sentimentos[3].

Dom Miguel era n'um certo sentido mais senhor das suas acções do que Dom Pedro, o qual se achava desde antes da independencia enleado, pelos conluios que o levaram ao throno imperial, com a maçonaria brazileira, a qual era um ramo d'essas sociedades secretas de espirito francez, embora em Portugal fossem as lojas constituidas em bom numero pelos officiaes Inglezes da guarnição alli destacada, e tivesse a maçonaria contado no seu inicio com o patrocinio do duque de Sussex, irmão de Jorge IV e hospede de Dom João VI II[4].

  1. A 10 de Julho de 1826, B. R. O., F. O.
  2. Já vimos que Canning lho prohibiu.
  3. Despacho de A'Court a Canning de 1.º de Julho de 1826, B. R. O., F. O.
  4. A maçonaria revelou um caracter accentuadamente domolidor em Portugal, manobrando para a deposição de Dom João VI em 1806 e agindo sob a inspiração directa dos agentes de Bonaparte contra a Inglaterra e a favor do estabelecimento do dominio napoleonico quando o sol imperial estava no zenith. Para este fim, a titulos e em gráos diversos, collaboraram Araujo, Ega, Aloma, Gomes Freire, Subserra e outros.