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2019

Emília, a cidadã-modelo soviética

2. Lobato Comunista?

Por que os livros de Lobato foram publicados na União Soviética? Primeiro, porque boa parte da obra do escritor reflete seu posicionamento, de um lado, contrário às oligarquias, aos trustes estrangeiros, ao status quo, aos poderosos e à Igreja Católica, e, de outro, a favor do desenvolvimento nacional petrolífero e siderúrgico e da reforma agrária.

Os comentários e a moral no fim de várias das Fábulas (1921/1962) mostram um Lobato socialista, contrário ao opressor e favorável a uma sociedade mais igualitária para todos. Por exemplo, em “O Cavalo e o Burro” (Lobato 1962:140-141), o primeiro se recusa a ajudar o segundo a carregar uma parte de seu fardo. O burro desmorona e, quando os tropeiros chegam, colocam todo seu fardo em cima do cavalo. Dona Benta diz que isso demostra uma falta de solidariedade da parte do cavalo e, com uma insólita referência a Deus, explica a mensagem cristã da fábula, de solidariedade, elucidando aos picapauzinhos: “É o reconhecimento de que temos de nos ajudar uns aos outros para que Deus nos ajude. Quem só cuida de si, de repente se vê sozinho e não encontra quem o socorra. Aprendam.” (Lobato 1962:141)

Além disso, Lobato mostra como o trabalho é, muitas vezes, realizado em benefício de outros, que se aproveitam daqueles que o executam. Em “A Mosca e a Formiguinha” (Lobato 1962:99-101), a primeira, “fidalga”, sempre se aproveita da comida dos outros. Mas, para a formiga trabalhadora, aquela é uma parasita e, no final da fábula, a mosca encontra-se trancada dentro de casa sem nada para comer, morrendo de fome. A moral é: Quem quer colher, planta. E quem do alheio vive, um dia se engasga. (Lobato 1962:100)

Em “Os Animais e a Peste” (Lobato 1962: 91-93), aqueles decidem quem será sacrificado para que o coletivo se livre da peste. O leão, a raposa e o tigre admitem os crimes que praticaram ao matar animais desprezíveis, enquanto o burro confessa ter cometido um único:

“A consciência só me acusa de haver comido uma folha de couve na horta do senhor vigário.”
Os animais entreolhavam-se. Era muito sério aquilo. A raposa toma a pa-
lavra:

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