Quando ao termo affrontados se appropinquam,
Niso escorrega dos novilhos mortos
No cruor que a verdura e o chão molhara.
Já de vencida e ovante, o infeliz moço,
350Titubando-lhe os pés, de bruços tomba
Sôbre o sagrado sangue e esterco immundo.
Mas não lhe esquece Euryalo querido:
A resvalar se erguendo, a Salio oppõe-se,
Que tropeça e revôlto jaz na arêa.
355Salta Euryalo; e, graças á amizade,
Voa o primeiro com ruídoso applauso.
Vence Hélymo em segundo, e alfim Diores.
A amplidão da platéa atroa Salio,
Perante os padres reclamando a glória
360Que se lhe rouba. A Euryalo defende
Geral favor, e as lagrimas decoras,
E a virtude mais bella em gentil corpo.
Gritando o apoia com fervor Diores,
Que, último vindo, a palma não consegue,
365Se conferem a Salio as móres honras.
Decide Enéas: «Socegai, mancebos,
Que do triumpho a ordem não se altera:
Compadecer me caiba o insonte amigo.»
E a Salio dá, vellosa e de aureas unhas,
370A de um leão numidio ingente pelle.
Niso aqui: «Dos vencidos que resvalam
Se has dó tamanho, a Niso o que reservas,
Que, a não têr ao de Salio igual desastre,
Merecera a coroa e a primazia?»
375E ao fallar mostra a cara e os membros torpes
De atra sangueira. O padre riu benigno,
E um, que do umbral sagrado de Neptuno
Os Danaos despregaram, trazer manda
Broquel dydimaonio, obra excellente
380Com que brinda e compensa o moço egregio.