Durante os ludos funebres Saturnia
Envia á troica armada Iris celeste,
Com ventos a aligeira, e em cem projectos
A inveterada queixa não sacia.
630Pelo arco multicôr, de golpe a virgem
Ganha um declive atalho; attenta invisa
Tropel tam basto, e vê, lustrando as praias,
Deserto o pôrto, abandonada a frota.
Lá sós, em borda escusa, o morto Anchises
635As Troadas choravam, e o profundo
Ponto olhavam chorando: «Ai! tam cansadas
Que abysmo que nos resta!» á uma exclamam.
Pedem cidade; a róta longa entejam.
Nada innoxia, deposto e o trajo e o vulto,
640Chega-se a deusa, em Béroe disfarçada,
Conjuge annosa do Ismaro Doryclo,
Célebre d’antes por fecunda e nobre;
Entre ellas se insinua, e diz: «Mesquinhas!
Que ás mãos gregas a morte não tragámos
645Sob os muros da patria! Infeliz gente!
A que exicio a desgraça te reserva?
Volvem sete verões que, accesa Troia,
Fretos medindo, inhospitos rochedos,
Climas tantos e céos, por mar tamanho
650Da fugitiva Italia em busca, vamos
Pelas ondas rolando. Hóspede Acestes.
D’Eryx quem lhe obsta no paiz fraterno
A nos fundar cidade? Ó patria! ó numes
Do inimigo sem fructo arrebatados!
655Nunca um sítio verei que eu chame Troia?
Nunca os rios de Heitor, um Xantho, um Simois?
Presto, abrazai comigo infaustas pôpas.
Cassandra em sonhos, dando accesas tochas,
Me bradava esta noite: Ilio aqui tendes,
660Aqui vossa morada. Obrai, que he tempo;