Nem taes prodigios dilação permittem:
Eis sacros a Neptuno altares quatro;
O mesmo deus ministra ânimo e fachos.»
Nisto, agarrando infenso, a dextra eleva,
665Brande um tição com fôrça, e coruscante
O propelle. As Iliades suspensas
De espanto enfiam. Pyrgo, a mais idosa,
Que tantos filhos a seu rei criara:
«Esta, ó matronas, dice, a de Doryclo
670Beroe[1] não he Rheteia: o ar divino,
O garbo lhe notai, da vista o fogo,
O halito, o som da voz, o andar e o gesto.
A Beroe eu venho de deixar doente,
Pezando-lhe só ella em taes exequias
675Faltar com dons e merecido pranto.»
Cala; e as matronas os malignos olhos
Nos lenhos cravam, balançando ambiguas
Do ficar entre o misero desejo
E as fatídicas ordens; quando as azas
680Libra e desfere a deusa, e á retirada
Assinala entre as nuvens arco ingente.
Em furia, do prodigio estupefactas,
Do imo foco bramindo a chamma tiram:
As aras despojando, ás naus remessam
685Galhos, folhas, tições: Vulcano em bancos
E em remos enfurece, á redea sôlta
Raiva de abeto nas pintadas pôpas.
Ao sepulcro, á platéa, Eumelo a nova
Do incendio leva; e em rôlo atra fagulha
690Se enxerga a revoar. Primeiro Ascanio,
Quam ledo conduzia a equestre pugna,
Agil galopa aos arraiaes turbados;
Aios retêl-o exanimes não podem.
«Que intentais, cidadãs? que insania! ai tristes!
695Não pavilhões hostis, não graias quilhas,

  1. No verso 640, está Béroe.