Entretanto, a Neptuno afflicta Venus
Taes queixas despregou: «Senhor, a activa
Atroz ira de Juno insaciavel
Me abate a supplicar. Nem dó, nem tempo,
805Jove nem o destino, infandos odios
Quebra ou lhe adoça. Haver não basta aos Phrygios
Consumido e apagado a gran’cidade,
E as reliquias trazer de transe em transe;
De Troia inda persegue a cinza e os ossos:
810Desta sanha o motivo ella que o saiba.
Longo não ha que em Libya (es testemunha)
Mal afouta em Eolo, o pégo em brenhas,
Misturou de repente os céos e os mares:
E isto ousar em teus reinos! Eil-a, oh crime!
815Illiça as Teucras, incendeia as pôpas,
Naus estraga, e a largar meu filho obriga
Socios em terra estranha. O resto, ó padre,
Possa, eu t’o rógo, navegar seguro;
Aborde, se he que as Parcas lh’o concedem,
820Ao Tibre laurentino, e assentos funde.»[1]
Do alto oceano o domador Saturnio:
«He justo, respondeu, que em mim confies
E em reinos, Cytheréa, origem tua.
Mereço-o; que não raro hei por teu filho
825Marulhos comprimido e o céo raivoso.
Nem menos (testefique o Xantho e o Simois)
Delle em terra curei: quando ás muralhas
Pallidas turmas rebatendo Achilles,
Milhares dava á Estyge e o Xantho, os rios
830Entulhados gemendo, não sabia
Como volver-se ao mar; eu mesmo em nuvem
Cava ao Pelides fero Enéas roubo,
Que, impar em fôrça e divos, o acommette;
Bem que anhelasse, destas mãos erectos,
835D’Ilio extirpar os fementidos muros.
- ↑ No original faltam as aspas nesse lugar.