Encosta a fronte, as palpebras descansa,
Furta uma hora ao trabalho: espaço breve
Tomo o teu cargo.» Palinuro os olhos
Descerra a custo: «Queres que eu, lhe torna,
875Creia em tal monstro, em céo risonho estribe?
Que entregue Enéas a traidores austros?»
Em discursando, ao clavo mais se aferra,
Fito os astros contempla: as fontes ambas
Eis lhe borrifa, em Lethes embebido,
880Por fôrça estygia um ramo soporado;
Nadam-lhe os frouxos renitentes lumes.
Indo-lhe adormecendo o corpo laxo,
Morpheu se achega; ao líquido elemento,
Com pedaço da pôpa e o leme, o empurra:
885Despenha-se elle, em vão clamando aos socios;
O deus nos ares desappareceu.
Inda assim, em Neptuno assegurada,
Sulca impavida a frota o plaino amaro:
Já remonta os cachopos das Serêas,
890Que, então riscosos, de ossos alvejavam;
Roucas do salso choque as rochas soam.
Sem piloto á matroca o barco Enéas
Sente, e em pessoa por nocturnas ondas
Magoado o rege, lamentando o amigo:
895«Ai! nu, que em céo fiaste e em mar tranquillo,
Jazerás, Palinuro, em praia ignota.»[1]




  1. No original faltam as aspas nesse lugar.