primeiros movimentos, não teria elle o temor de parecer usurpar a victória, e a generosidade de se limitar ao segundo premio? Então he que todos commovidos repetiriamos: Gratior et pulchro veniens in corpore virtus.» Respondo que a juventude he nobre e generosa, mas que está bem longe da rectidão que lhe attribúe o crítico. Virgilio conhecia melhor o homem, sabia que no moço aduna-se a nobreza e a vaidade: no afôgo de vencer em que Euryalo se achava, o seu primeiro natural movimento era o de acceitar a vantagem que lhe tinha procurado o seu Niso; e mesmo este poderia levar a mal que o amigo reprovasse o ardil. Euryalo tinha virtude e generosidade, com os defeitos proprios dos seus annos. He inconcebivel o que pretende Mr. Tissot: ora censura o autor (como já atrás vimos) por fazer os seus heroes inteiramente perfeitos; ora julga esses mesmos heroes improprios para governar os homens que mandam; ora exige que o poeta ponha em um menino, não só toda a generosidade, mas tambem toda a justiça; qualidade que nasce do fundo do coração, mas que se reforça com a experiencia. Chateaubriand, segundo a poetica versão portugueza, assim diz a este respeito: «Moldou Jove á piedade os annos tenros: Se nós-outros anciãos, vergando curvos C'o pendor de Saturno, agasalhamos Na alma a justiça e a paz, privados somos Da compaixão, dos meigos pensamentos, Que ornam da vida os mais formosos dias.» Eu suspeito que os estudos de Virgilio e de Chateaubriand, na materia, eram mais profundos que os de Mr. Tissot. Não me demorarei em refutar os desparates de Mme Dacier ácêrca desta passagem da Eneida.

362-484. — 381-506. — Todos estes versos emprega o poeta no combate de Dares com Entello. Muitas paginas me seriam precisas para apontar as bellezas do estilo e da versificação: o leitor instruído facilmente as discernirá; e o que o não fôr, advertido como está nas anteriores notas, poderá por si mesmo descobril-as. Veja-se Delille sôbre a harmonia imitativa do liv. V. — Fallarei apenas da nota de Mr. Villenave ao verso 413; o qual, com justiça reprovando a censura de Heyne, accrescenta: «Elle criticaria os chiens dévorants que se desputavam des lambeaux affreux! Elle acharia algumas vezes Racine e Corneille fastidiosos!» Estas admirações provam que Mr. Villenave pensava que era mais facil encontrar em Virgilio cousas fastidiosas, do que em Racine e Corneille. Fóra vaidade nacional! Os dous grandes e sublimes tragicos tal não diriam: Racine certamente cria fastidiosas quasi todas as scenas da infanta de Castella no Cid; e Corneille não achava boa a tragedia Alexandre. — O mesmo crítico, ácêrca da traducção dos versos 451-452 por Delille, ajunta: «He o privilegio do poeta, a quem he permittida a imitação; mas o prosador se deve limitar a traduzir.» Eu digo: «O poeta não deve imitar, mas traduzir o poema; do contrário,