pela eburnea sahiam as visões falsas; pela córnea, as sombras verdadeiras. Como Virgilio faz sahir Enéas pela eburnea, dizem os commentadores que nisto indica o poeta e confessa mesmo que a descida aos infernos se deve numerar entre as fábulas. Talvez esta fôsse a mente do autor; mas tal opinião eu não a vejo provada. Quer Enéas sahisse pela porta de marfim, quer pela de corno, tinha sempre de servir-se de uma que não lhe pertencia; porque elle, tendo descido aos infernos em corpo e alma, nem era sombra verdadeira para servir-se da porta de corno, nem era falsa visão para servir-se da de marfim. Pode pois dizer-se que, devendo elle por fôrça dalli sahir por uma, o poeta escolheu aquella. — No último verso deste livro, que he o mesmo que o 277 do III, denota o poeta o uso antigo de ancorarem os navios com a pôpa virada para a terra, onde eram seguros por calabres. Mr. Jal assim discorre a pag. 14 do Virgilius nauticus: «O verso Anchora de prora jacitur, stant littore puppes, que se acha no fim desta parte do poema tam magnificamente epica, como uma nota alli sómente lançada pelo autor, para se recordar de que deve conduzir os Troianos a Gaeta e ancorar os navios no pôrto, teria sido substituido por um que não repetisse o do liv. III; pois não podia querer que uma dobrada negligencia marcasse a conclusão deste livro, admiravel pelo estilo e perfeito em suas partes. E digo uma dobrada negligencia; porque, alêm de ser uma repetição, o verso contêm no segundo hemistichio, sem que seja uma belleza, a palavra littore que se lê no verso precedente.» Razão tem Mr. Jal; e o que diz aqui desta repetição, tambem o diz elle das outras que ha em toda a Eneida, as quaes seriam corregidas, se a morte não atalhasse o poeta em uma idade pouco avançada. — Todos os versos repetidos na Eneida, eu os traduzo differentemente, conservando comtudo o sentido, e só variando nas palavras.