ENEIDA.


LIVRO I.




Eu, que entoava na delgada avena
Rudes canções, e egresso das florestas,
Fiz que as vizinhas lavras contentassem
A avidez do colono, empresa grata
Aos aldeãos; de Marte ora as horriveis5
Armas canto, e o varão que, lá de Troia
Prófugo, á Italia e de Lavino ás praias
Trouxe-o primeiro o fado. Em mar e em terra
Muito o agitou violenta mão suprema,10
E o lembrado rancor da seva Juno;
Muito em guerras soffreu, na Ausonia quando
Funda a cidade e lhe introduz os deuses:
Donde a nação latina e albanos padres,
E os muros vem da sublimada Roma. 15

Musa, as causas me aponta, o offenso nume,
Ou por que mágoa a soberana déa
Compelliu na piedade o heroe famoso
A lances taes passar, volver taes casos.
Pois tantas iras em celestes peitos!20

Colonia tyria no ultramar, Carthago,
Do ítalo Tibre contraposta ás fozes,
Houve, possante emporio, antigo, asperrimo
N’arte da guerra; ao qual, se conta, Juno
Até pospoz a predilecta Samos:
Lá coche, armas lá teve; e annúa o fado,25