ENEIDA. — LIVRO I.
11

Fere-a; do baque o prono mestre vôlto
Cahe de cabeça. O vagalhão tres vezes
Torce-a, revira, um vortice a devora.
Raros no vasto pégo a nadar surdem;
135Taboas e armas viris e alfaias troicas,
Prêa das ondas. A tormenta escala
A nau robusta de Ilioneu, de Abante,
As de Alethes grandevo e Achates forte:
Todas, frouxadas as junturas, sorvem
140A inimiga torrente, e em fendas gretam.
Mugir seu reino e o temporal desfeito,
Caixões do imo a brotar, sentiu Neptuno,
Torvo, abalado, e acode acima e exalta
A placida cabeça. A frota esparsa
145Vê sossobrando, oppressos os Troianos
Da marejada e do ruído ethereo.
De Juno irosa o dolo o irmão percebe;
Euro e Zephyro chama: «Herdastes, ventos,
Tal presumpção, que sem meu nume, ousados,
150Terra e céo confundis e equoreas brenhas?
Eu vos... Mas insta abonançar as vagas:
Caro m’o pagareis, guardo o castigo.
Ao rei vosso intimai, já já, que em sorte
Não lhe coube este imperio, que o tridente
155Fero he só meu. Tem elle enormes fragas,
Euro, vossas mansões: nessa aula ufano
Sôbre enclaustrados ventos reine Eolo.»

Nem cessa, e o mar se lança, o tempo alimpa
E abre o Sol. Finca a espadoa, e com Cymóthoe
160As naus Tritão do escolho desengasga;
Mesmo o padre as alliva com seu sceptro,
Amplas syrtes afunda, aplaca os mares,
Por cima em rodas se deslisa leves.
Como, enraivado em popular tumulto,
165Despara ignobil vulgo, e o facho e o canto