vezes, abrindo os olhos, na penumbra triste, via-o alvejando imóvel, a fitar-me, como um duende.

Não raro, no silêncio noturno, uma voz gania lancinante; gritos, guaiados atroavam. Eu estremecia apavorado, sentava-me no leito e logo o homem aparecia tranquilizando-me, entabolava conversa, ou ficava a fumar, silencioso, olhando-me.

Uma noite, tarde, levantou-se em toda a casa um alarido agoniado. Saltei da cama, pus-me à escuta: “Onde estou? Que hospital é este?” perguntei ao vigia que acorrera. Ele trejeitou atarantado sem achar resposta pronta; disse apenas:

— O senhor já está bom. O diretor vai dar-lhe alta. O alarido cessou e o silêncio estendeu-se mais abafado e mais lugubre.

Na manhã seguinte, cedo, chegando à janela gradeada do meu quarto, vi ao longe a cidade luminosa, o mar azul e, em baixo, no fundo de horta e parque, homens de lavoura regando talhões e enfermos passeiando vagarosamente, na doçura do ar fresco, pela