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Não são os cinco mil milhões de francos
Que a Allemanha pediu a Jules Favre.
É o dinheiro coberto de azinhavre
Que o escravo ganha, trabalhando aos brancos!

Seja este sol meu ultimo consolo;
E o espirito infeliz que em mim se encarna
Se alegre ao sol, como quem raspa a sarna,
Só, com a misericordia de um tijolo!...

Tudo emfim a mesma órbita percorre
E as boccas vão beber o mesmo leite
A lamparina quando falta o azeite
Morre, da mesma fórma que o homem morre.

Subito, arrebentando a horrenda calma,
Grito, e se grito é para que meu grito
Seja a revelação deste Infinito
Que eu trago encarcerado na minh’alma!

Sol brazileiro! Queima-me os destroços!
Quero assistir, aqui, sem pae que me ame,
De pé, á luz da consciencia infame,
A carbonisação dos proprios ossos!

 
Pau d’Arco,—4-5-1907.