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Hamlet não é loaco, não é doente, não é epiléptico, conforme o veredictum, as investigações e cogitações dos criticos, dos physiologistas e psychologos de todos os tempos.

Hamlet é o zenith da alma humana nos seui momentos augustos e tremendos, nos seus estados soberbos e soberanos de laceração. É o espasmo do desdém e do oigulho transeendentalisados, acima das camadas da Terra, gyrando no Absoluto. É o Abstracto que odeia e que ama, que perdoa e que castiga. É a Matéria que tem sede de ser Sombra, para esvair-se, pai-a apagar-se, para clesapparecer da Matéria que a encarcera, e que a tortura. É a vibrante chamma sensível da Aspiração insaciável que sonha ser o pd do Nada, para que o envóluci-o physico e ephemero que a contêm possa acabar de aspirar e de soíírer. É o Sentimento da volúpia radiante, redemptôra e purificadora da Morte na Vida, secretamente embalsamando de um aroma lethal estonteador, como um longo e lento beijo immortal de além tumulo, os infinitos da Eternidade.

Cada homem, quando se escuta a si mesmo, quando se olha a si mesmo, quando se palpa a si mesmo, quando desce em silencio á funda cisterna immensa de si mesmo, ha de sentir um pouco de si mesmo no Hamlet, d′aquellas