— Viva, anjinho ! Que faz por aqui, tão inquieta? Está a tremer...

— E' que me perdi e tremo com medo do lobo.

— Medo ao lobo? Que bobagem é essa? Pois ignora você que o lobo já fez as pazes com o rebanho?

— Que me diz?

— A verdade, filha. Venho de casa delle, onde conversamos longamente. O pobre lobo está na agonia e muito arrependido da guerra que moveu ás ovelhas. Pediu-me que dissesse isto a vocês e as levasse lá, todas, afim de sellarem o pacto da reconciliação.

A ovelhinha ingenua pulou de alegria. Que sossego dali por deante, para ella e as demais companheiras! Que bom viver assim, sem o terror do lobo no coração!

E, enternecida, disse:

— Pois vou eu mesma sellar o accôrdo feliz.

Partiram. A raposa, á frente, condul-a á toca da féra.

Entram. A ovelhinha, ao dar com o lobo estirado no catre, por um triz que não desmaia de medo.

— Vamos, disse a raposa, beije a pata do magnanimo senhor! Abrace-o, menina !

A innocente, vencendo o horror, dirige-se para elle e abraça-o. Neste momento o monstro ferra-lhe o dente, mata-a e come-a.


Muito padecem os bons que julgam os outros por si.