— 6 —

nação e observação nos podem suggerir para um emprehendimento litterario. O bom senso nos esclarece para rejeitarmos o que ha de futil, banal e grosseiro, e só escolhermos o que ha de conveniente, util e decoroso na vida real. O bom gosto nos inspira para que só lancemos mão do que é bello, isto é, daquillo que pode ser agradável á imaginação do leitor.

Utile dulci — eis o axioma de critica litteraria, que nunca será derrogado. Do primeiro se encarrega o bom senso, o segundo é tarefa do bom gosto.

Si o romantismo puro não pode constituir uma escola, também não o pode o realismo. No romance principalmente, genero de litteratura, sobre o qual ainda ninguem legislou, nem pode legislar, campo vasto, aberto a todas as imaginações, ninguem deve ser julgado segundo os aphorismos desta ou daquella escola, deste ou daquelle systema.

No romance nada de exclusivismo escolar ; nada de exagerações. Caracteres e descripções, lances e peripecias, tudo deve ter o cunho da verosimilhança e da naturalidade ; tudo deve marchar de accordo com as leis physicas e moraes, a que o mundo e a humanidade estão sujeitos, a menos que não se tracte de alguma dessas producções, que pertencem francamente ao genero phantastico, como os poemas de Ariosto, as