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FANTINA

de D. Luzia tinha uma immobilidade assustadora. Quando as pontas do couro espicaçando a carne fumegante atiravam pingos de sangue sobre o vestido de D. Luzia, esta dizia ao rapaz :

— Olha que te faço vir enxugal-os com a bocca.

Quando o algoz tirou as cordas e a mordaça, foi preciso levantar a rapariga, que tão tremula estava, que não podia sustentar-se de pé.

Então D. Luzia chegando perto perguntou á castigada :

— Que tal, senhora alcoviteira ?

Nada respondeu, e só deixava se ouvir o borborinho da respiração contida e dos soluços cortados.

No olhar que a rapariga lançou sobre a senhora havia um curiscar de fluidos enraivecidos que abraçavam-se como dardos para a vingança.

O suicidio passou-lhe pelo espirito como a ponta da aza de um corvo, mas ella pensou, lembrou-se da vingança que o sangue que ensopava o pó estava pedindo, e enchotou aquella idéa como a um cão leproso.

— Para vingar-me preciso viver. Meu sangue em poças humedece a terra.

Rosa remordendo-se interiormente não dava-tregoas á imaginação, procurava, apalpava, evocava memórias adormecidas pelo tempo.