FANTINA

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Os soldados em um ardòr canibal arrombaram as portas, fizeram grande berreiro quando não encontraram o criminozo, espancaram duas velhas que ainda dormiam, e espantaram um primo de Daniel que atirou-se por boqueirões profundos ; e depois um dos guardas que ficaram na porteira apitou e os outros avançaram.

Viram onde estava a caça : deram ordem de prisão. O rapaz mesmo com a sua ingenuidade burgueza não quiz obedecer, dizendo não ser criminozo. O mastino em chefe mandou o movimento de fògo. Elle, porém, não se acobardou ; e assim ficariam os soldados o resto do dia, si aos rogos e choros da sua velha mãe e tia não se resolvesse a entregar.

— Entrega, meu filho, que seu Frederico te hade fazer voltar;—dizia entre lagrimas a desvalida mãe.

— Deus te hade favorecer, porque es o arrimo de uma pobre e imprestavel velha ; dizia-lhe a tia.

Amarrado ao rabo dos cavallos, como um porco, foi Daniel levado para a cadeia. Por um mez esteve elle vegetando entre quatro paredes humidas, infectas, onde o ar era azêdo.

A natureza creada ao ar livre, expandindo-se pelos campos mirrava-se como o arbusto dos tropicos que é transplantado para os pólos. Quando D. Luzia voltou