FANTINA

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a escada e poz a bigorna entre as pedras e pegando no martello começou de tarracar cravos ; que o burro atraz das egoas do Ingazeiro perdera duas ferraduras—dizia.

Daniel encostado ao corrimão da escada pedia-lhe conselhos. Elle dizia que furtasse a rapariga e fosse para bem longe ; que ella era clara, bonita e bem educada, por isso ninguém a tomaria por escrava fugida.

Daniel allegava não furta-la, porque ella negava-se a isso, por amisade a D. Luzia, que muito a queria. Não ia ve-la todas as noites, porque queria-a para sua mulher, queria ser marido.

— Então deixa disso ; e batia nos cravos com martelladas de um cyclope.

— Seu Zé de Deus, é uma coisa esquesita que eu sinto por aquella rapariga : vou trabalhar e fico com ella adiante dos olhos ; vou dormir, sonho com ella ao canto da cama sendo furtada por uns negros horríveis, que arrombam a parede ; então dou tiros, ouço-a gritando que acuda . . . . Acordo suado, afílicto, com a bocca margosa. Acho que é feitiço. Minha mãe fallou ao vigário a este respeito, e elle disse que eu furtasse Fantina e levasse para casa delle, e que depois della estar lá escondida uns vinte dias, nos casaria. Mas eu