Sigo ávante a beber-lhe a luz eterna,
Tendo o dia ante mim e atraz a noite,
Os ceus sobré a cabeça, aos pés as ondas.,
Um bello sonho emquanto o sol s'esvae!
Ai, que ás azas do espirito tão facil
Não hão de associar-se azas corporeas!
E todavia a todo o ser nascido
Acima e ávante impelle o sentimento,
Se sobre nós no espaço azul perdida
Entôa a cotovia o canto agudo,
Se sobre os pinheiraes d'altivas rochas
Paira a aguia estendida, e por lagôas
Ou por plainos o grou procura o ninho.
Horas tenho tambem de phantesia,
Mas d'aspiração tal jamais fui conscio.
De bosques e de prados cedo farto
Nunca invejei aos passaros as azas.
Como o prazer do 'studo outro nos leva
De livro em livro, d'uma a outra pagina!
Assim se tornam bellas, tediosas
Noites d'hinverno e calorosa vida
Os membros nos aquece, e ai, se acaso
Um douto pergaminho desenrolas,
É o ceu que sobre ti baixar se, digna.