Sobre o pescoço forte e cheio, donairosa,
A cabeça gentil meneias, radiosa;
Com majestade e bonança,
Prossegues tua marcha, imponente creança.

Eu quero descrever, preguiçosa beldade,
Os peregrinos dons da tua mocidade;
Esses dotes soberanos
Em que se alia a infância ao fulgor dos trinta anos.

Teu colo, a palpitar, soerguendo o vestido,
Teu colo triunfal lembra um movel polido
De abaulados gavetões
Como argênteos broqueis, despedindo clarões;

Provocantes broqueis com bicos côr de rosa!
Armário encantador, despensa primorosa
Com manjares escolhidos,
E vinhos de embriagar a alma e os sentidos!

Quando passas, movendo as saias, pelo asfalto,
Lembras uma corveta a singrar no mar alto,
As velas pandas ao vento
N’um rítemo suave, enlanguescido, e lento.

As tuas pernas, sob as saias que as apertam,
Castigam as paixões obscuras que despertam,
Como duas feiticeiras
Mexendo um filtro negro em fundas cafeteiras.