Delfim Guimarães é um homem novo e a sua obra é, já hoje, vasta; além d’isso, tem em preparação dois estudos de tomo; um sobre Diogo Bernardes, outro sobre Camões e vae publicar uma peça de costumes minhotos «Domingo de Pascoa». O mister de traductor ou de interprete, em volume completo, de poetas extrangeiros, entre nós, se não obedece á dura necessidade de produzir trabalho remunerado, representa uma diminuição da potencial creadora como se pode observar em Filinto Elysio e em Castilho, com o reverso glorioso de serem os mais nobres e esmerados cultores da lingua.

Não é esse o caso de Delfim Guimarães: nem diminuição da veia inspiradora, nem intuitos de purismo na linguagem, embora a sua ortographia nos apresente formas novas, d’um personalismo bastante insubmisso e que mais vem baralhar as confusas ideias que tenho ou, melhor, já não tenho sobre o modo de escrever... mas, sob este ponto de vista, relego-o, com delicias, ás justiças seculares dos meus bons amigos Dr. Candido de Figueiredo, Gonçalves Vianna, Dr. José Leite de Vasconcellos – tres juizes capazes de o fritarem, se, antes d’isso, a si proprios e mutuamente se não frigirem.

São, portanto uma eclosão de dilletante litterario a feitu. ra e apparecimento d’esta versão portugueza de muitos dos versos do poeta da Charogne — versos que tiveram um echo retumbante e exerceram uma influencia maxima na mocidade que os viu apparecer e ainda nas gerações que se lhes seguiram. Desde o estudo de Gauthier, que acompanha o volume das Fleurs du Mal até aos Ensaios de psychologia contemporanea de Bourget (actualisados pela edição definitiva de 1901), não esquecendo a critica de Edmond Scherer, muitos foram os homens de lettras que se occuparam d’essa inconfundivel individualidade tão original, tão complexa, tão variada, a um tempo tão extremamente delicada e tão cortejadora de todas as brutalidades, pagã e mystica que foi Carlos Baudelaire.