Quero ver as regiões tropicaes, luxuriantes;
Negras tranças, servi-me de vagas veleiras.
Transportae-me no dorso aos países distantes!
Mar de azeviche, mar de sonhos deslumbrantes,
Com corvetas reaes, com mastros e bandeiras!

O’porto sem egual onde a minh’alma inglória
Pode á larga absorver sons, perfumes e côr;
Onde as grandiosas naus, na sua trajectòria,
As velas colossaes desfraldam para a glória

D’um céu puro onde esplende o eterno calor.
Eu quero mergulhar a lânguida cabeça
Nesse soturno mar que encerra o proprio mar,
E o espírito subtil, sobre a vaga travessa,
Fará, ó meu amor, com que eu me desvaneca
Num éxtase ideal, perfumes a aspirar!

Ó cabelos azues, tranças ebanizadas,
Viva imagem do ceu azul na escuridão;
Nos lindos caracoes, nas mechas desgrenhadas,
Consigo distinguir as essências variadas
Do coco, do ananaz, do musgo e do alcatrão.

Hoje, à manhan, e sempre l ó grenha estremecida,
Com per’las, com rubins e com safiras hade
Toucar-te com amor minh’alma agradecida,
Para que sejas sempre a taça apetecida
Por onde bebo, a flux, o vinho da saudade!