Como um navio a velejar na calma
Brisa da madrugada,
Desfralda as suas velas a minh’alma
Para longa jornada...

Teus olhos, onde nunca se lobriga
Alegria ou tristeza,
São de ouro e ferro misteriosa liga,
Quase tenho a certeza.

Quando tu andas, teu corpo indolente
Como arbusto balança;
Faz lembrar os volteios da serpente
Na haste d’uma lança.

Verga teu rosto ao peso avantajado
Da preguiça constante,
Fazendo recordar, assim curvado,
Um pequeno elefante.

Teu corpo faz lembrar frágil barquinho
Nas ondas do alto mar,
Em constantes baldões, n’um torvelinho,
Sem nunca sossobrar.

Como a corrente súbito engrossada
Pelos gelos fundentes,
Quando, na bôca, a agoa represada
Te aflue á flor dos dentes,