hegemonia estadunidense durante a Guerra Fria foi relativamente benigna, só entendemos realmente os custos humanos das regras imperiais quando vamos para o Sul. Os capítulos finais de Futuros imaginários refletem o que eu aprendi em minhas viagens ao Brasil. Enquanto escrevia o livro, sabia que críticas mais ferozes a essas profecias utópicas do Norte explicavam como seus defensores tentaram imaginá-las no Sul. Com muita surpresa, descobri que os apoiadores estadunidenses do golpe de 1964 no Brasil foram também os arquitetos da desastrosa invasão daquela nação ao Vietnã. Com as forças lideradas pelos EUA que ocupam o Iraque e o Afeganistão, o paralelo com o presente deve ser desenhado. O desejo de possuir o tempo está intimamente conectado com a ambição de controlar o espaço. Quando olhei o mundo a partir do Sul, pude ver quão facilmente os sonhos da alta tecnologia podem se transformar em pesadelos de barbárie e crueldade. Ir para São Paulo foi uma pré-condição para entender por que — em Futuros imaginários — Saigon tem um papel tão central na história da “aldeia global”,

Quando visitei o Brasil pela primeira vez, em 2002,a importância de encarar o mundo do ponto de vista do Sul enquanto escrevia este livro não era imediatamente óbvia. Em uma conferência na UFRJ, nossos anfitriões entretiveram os convidados internacionais com uma triste história da versão local do estilo californiano de alta tecnologia. Fascinada pela bolha das empresas ponto com do fim da década de 1990, a administração de Fernando Henrique Cardoso fantasiou sobre o Brasil dar um grande passo adiante, do subdesenvolvimento para a sociedade da informação, sem passar pelo fordismo. Faltando aos carentes habitantes das favelas próximas, além de necessidades básicas, os serviços de bem-estar social que são garantidos na Europa, ficamos apavorados em saber como os futuros imaginários do Norte deram um brilho modernista na