perpetuação da exploração no Sul. Quando os apoiadores do recém-eleito governo Lula nos contaram que chegar ao fordismo seria a maior conquista para a população urbana brasileira pobre, não pudemos discordar. Focar a política econômica do país em computadores, Internet e telefones celulares parecia grotesco quando tantas pessoas necessitavam de água, saneamento básico, eletricidade, saúde e educação. Líamos nosso Marx — sabíamos que o Sul não poderia evitar seguir o lento e doloroso caminho do Norte em direção à modernização.

Tive então um pensamento preocupante. Ironicamente, nossas simpatias esquerdistas pelos habitantes das favelas poderiam esconder uma duvidosa certeza da superioridade européia. Com o enorme abismo entre ricos e pobres, viajar ao Rio de Janeiro no começo do século 21 era como voltar no tempo à Londres do final do século 19, Certamente era verdade que muitos turistas iam ao Brasil para uma dose rápida de exotismo e aventura antes de voltar para suas seguras casas européias. Se nossas motivações para viajar ao exterior não fossem puras o suficiente, significaria que os habitantes de um país subdesenvolvido não nos poderiam contar nada sobre computação e Internet que já não soubéssemos. Aqui estava outra conclusão problemática. Fernando Henrique foi um respeitado economista marxista antes de sacrificar princípios pelo poder. Sua aproximação perversa com o neoliberalismo ponto com pode ter sido fundada sob um cerne de racionalidade: o Sul teria que fervorosamente imitar o Norte em todas as suas imperfeições. Com sua ambição de saltar do fordismo para a pós-industrialização, talvez ele fosse o verdadeiro radical, ao invés do governo Lula — com seu cauteloso programa de reformas parciais. Quem quer ser Suécia quando se pode ser o Vale do Silício?

Seis anos depois, enquanto o sistema financeiro global colapsa em crise, parece absurdo que o Brasil queira se transformar na