Califórnia. Pelo contrário, é agora largamente reconhecido que muitos dos elementos do novo paradigma da modernidade são mais facilmente descobertos nestes países supostamente subdesenvolvidos do que na avançada vizinhança ao Norte. Na época em que o Mídia Tática Brasil[1] me convidou a voltar para a conferência em 2003, Gilberto Gil já defendia — como ministro de Estado — uma visão da Internet como código aberto. Para ele, financiar telecentros comunitários e pontos de cultura complementava os suprimentos básicos dos menos privilegiados. De maneira ainda mais bela, eram os fetichistas do direito autoral do Norte que deveriam imitar a atitude tranqüila do Sul em relação à propriedade intelectual, não o contrário. Os que têm computadores e acesso à banda larga podem ser em número bem menor no Brasil do que na Europa ou EUA, mas era ali que se poderia achar os primórdios da cultura participativa da Internet. O carnaval, e não o mercado, era o modelo do Ministro da Cultura para a emergência da sociedade da informação. Fazendo jus às suas raízes na Tropicália, Gil é um verdadeiro cosmopolita. Imitação não é subserviência — é inspiração e cooperação. Remixar, samplear e citar são ferramentas do trabalho coletivo na economia da dádiva da alta tecnologia.

Na conclusão deste livro, eu argumento que devemos inventar novos futuros. Exorcizar as ideologias da Guerra Fria de inteligência artificial e de aldeia global é minha contribuição ao mapeamento de um caminho através das múltiplas promessas econômicas, sociais e ambientais que agora confrontam a humanidade. Crucialmente, como adivinhou meu interlocutor da praia de Pipa, vocês também ajudaram a criar este texto de alguma maneira. Futuros imaginários teria sido um livro levemente diferente em várias maneiras, se eu não visitasse o Brasil e aprendesse com as pessoas que conheci neste país. Os habitantes do Norte e do Sul estão juntos nesta aventura da modernidade. Então, continuemos