A COMPUTAÇÃO DA GUERRA FRIA

tecnologias. Dentro do pavilhão Futurama, em 1939, os estandes que mostravam os automóveis novinhos em folha da General Motors faziam o papel de co-adjuvantes no enorme diorama que retratava a ambição da corporação em transformar a maioria da população dos Estados Unidos em suburbanos consumidores de carros próprios. Essa vitrine de máquinas inspiradoras e produtos inovadores era desenhada para ganhar adeptos ao conceito dominante de sociedade hierárquica da elite. Já que existiam tantas coisas maravilhosas no presente, o sistema gerencial provou sua habilidade em construir o futuro imaginário. Contudo, apesar da priorização de seu papel simbólico, essa exposição não póde ignorar totalmente os valores de uso das novas tecnologias. Quase todas as pessoas na Feira Mundial de 1939 em algum momento já haviam viajado em um carro motorizado. Os futuros imaginários expressavam o potencial de um presente realmente existente.

A Feira Mundial de Nova Iorque de 1964 precisava de um nível muito mais alto de fetichismo. Pela primeira vez, a iconografia teve que negar o principal valor de uso das novas tecnologias. Apesar das controvérsias, os carros motorizados proviam muitos benefícios para o público geral. Ao contrário, foguetes, reatores nucleares e computadores mainframes eram inventados para um propósito diabólico: assassinar milhares de pessoas. Apesar da hegemonia imperial depender de armas nucleares, essa ameaça de aniquilação mútua tornou a posse das mesmas cada vez mais problemática. As elites regentes dos Estados Unidos e da Rússia tiveram dificuldades em admitir para si mesmas — e ainda mais para seus cidadãos — a profunda irracionalidade da nova forma de competição militar. A Guerra Fria nunca se tornou uma guerra quente entre as duas superpotências porque ambas poderiam se destruir com armas nucleares. Nenhuma nação “venceria” se a maioria de seus cidadãos estivessem mortos e todas as suas grandes cidades transformadas em

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