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em francez significa deixar. Dixe he conforme ao latim dixi. Os Minhotos dizem om em vez de ão, e pronuncião ão em vez de ou ; v. g. amárom, razom, fizerom, sujeiçom, por amárão, razão, fizerão, sujeição ; e são por sou, estão por estou, e ai agoa por a agoa.

Os Algarvios e os Alemtejanos dizem ei por eu ; v. g. mei pai, meis amigos, e os rusticos dos arredores de Lisboa e das provincias trocão os pluraes dos nomes em ão, e dizem tostães, grães, em vez de tostões, grãos, etc., fruita por fruta.

Os Beirões trocão ou por oi, e dizem coive, oivir, por couve, ouvir.

Em geral pronunciamos mũito, se bem que escrevamos muito. Ou, ora soa assim, ora oi, v. g. oiro, agoiro, doirar, oiço, dois ; mas em douto, e nas terminações, soa sempre ou.

Da orthographia da Lingua portugueza.

A lingua portugueza he derivada da latina, mas não directamente do latim classico, e por isso differe d’aquella, tanto no som das palavras como no valor d’ellas, e na construcção. D’aqui nasce a imperfeição da nossa orthographia, imperfeição inherente á origem e irregular derivação da lingua ; porque, se, para nos conformarmos com os radicaes latinos, adoptamos a orthographia da lingua-mãi, muito nos affastaremos da pronunciação em hum grande numero de vocabulos que ainda conservão bas-