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vemos espaço, estatua, etc., porque ainda que spatium, statua, não tenhão e, esta letra he indispensavel em portuguez, assim como em hespanhol, porque fórma huma syllaba que não existe no latim. Pela mesma razão escrevemos, e escreve o proprio autor estar de stare, latino. Estas modificações de pronunciação são fundamentaes, é constituem o caracter dos dialectos derivados. Em scena, sciencia, etc., não pronunciamos o e inicial, pois não dizemos escena, esciencia, e por isso não nos devemos desviar dos radicaes. Não sei por que motivo o autor escreve dirivação, por derivação, suseder, por succeder ou suceder, pronunsiasão, por pronunciação. Tão cingido ao latim nas palavras acima apontadas, como se desvia nestas e outras dos radicaes ? Em latim escreve-se derivatio, succedere, pronuntiatio.

No § 2 em que trata da escriptura dos seis caracteres latinos h, x, c, ç, g, s, e das letras dobradas, admitte o h inicial nas vozes que o tem em latim, e supprime-o nas mais. Já mostrei porque, sendo o h hum signal equivalente de hum accento grego em latim, deve usar-se d’elle em portuguez todas as vezes que fizer a mesma funcção. Por isso escrevemos bem : ahi, e cahir, sahir, anhelar, anhelito, etc. Não só o h de ahi he ligeiramente aspirado como o de ah ! oh ! hui !, mas seria mui facil confundir ou com ai, tanto na escripta como nos imprensos, se ao h se substituisse hum accento sobre o i. Escrevemos aqui, porque esta palavra não vem de hîc, mas de huma voz grega pronunciada iki.