pedir-lhe-hei a sua. (Mostrando Polonio.) Quanto a este homem, arrependo-me do que fiz; mas obedeci ao céu; assim o quiz tornando-me instrumento das suas vinganças, punindo-o por mim, a mim por elle. Sepultem-no, eu responderei pela morte que lhe dei! Adeus, pois. Cumpre-me ser cruel por humanidade; o primeiro mal está feito, o maior ainda ha de vir. Uma palavra ainda.
Que devo fazer?
Nada do que eu lhe disse! Receba as caricias do avinhado monarcha, preste as suas faces aos seus osculos, ouça-lhes as palavras de amor; então n'um diluvio de ardentes osculos, entre as mais lubricas caricias, confesse-lhe, revele-lhe tudo, diga-lhe que nunca estive louco, que o fingi, faça-lhe essa confidencia. Qual seria a rainha, bella, sensata e honesta, que hesitasse em confiar áquelle animal immundo e repellente, asqueroso reptil, tão importantes segredos? Quem guardaria silencio? Ninguem. Depois, olvidando o bom senso e a discrição, abra a gaiola e deixe voar as avesinhas, e seguindo o exemplo do bugio da legenda, por simples experiencia, introduza-se na gaiola e rompa o pescoço caíndo!
Acredita, Hamlet, que se as palavras se compozessem de fôlgo e o fôlgo de vida, eu não teria vida para articular as que tu me disseste.
Devo partir para Inglaterra; sabe-o sem duvida, minha mãe?
Infeliz! Tinha-me esquecido; pois isso está definitivamente determinado?
Ha cartas selladas, e os meus dois companheiros de estudos, nos quaes me fio tanto como na innocencia dos envenenados dardos das viboras, são os portadores da ordem! São elles que me hão de aplanar o caminho, e se encarregarão de me conduzir ao laço armado pela mais negra traição. Deixemos caminhar os acontecimentos. Causa devéras prazer ver rebentar nas mãos do proprio artifice a bomba que para outrem