Não lhe quero fallar.
Pede-o encarecidamente. Verdade é que ella perdeu a rasão; o seu estado é digno de compaixão.
O que pretende ella?
Falla sempre no pae, pretende terem-lhe dito que n'este mundo se commettem bem más acções, suspira, bate no peito, exaspera-se sem motivo. Profere palavras equivocas e sem sentido. Nada diz, comtudo quem ao ouvil-a não teria vontade de a comprehender. Aquelles que a ouvem procuram adivinhar o sentido, e preenchendo as lacunas, tentam completar o sentido das suas fallas. Vendo os movimentos que faz, acompanhando as palavras, todos lhe suppõem um pensamento, um sentido, e provavelmente tem-no, mas de certo bem sinistro.
É conveniente fallar-lhe, porque poderia impressionar malevola e perigosamente os espiritos. Que venha. (Horacio sáe.) (Continuando) Ah! minha alma enferma! Será uma condição do crime, que a menor bagatella pareça sempre a precursora de alguma grande calamidade? Tal é a desconfiança em uma consciencia culpada, que se trahe a si mesma com o receio de se trahir.
Onde está a bella rainha de Dinamarca?
Ophelia?