formalmente; renuncio a tudo n'este e no outro mundo, aconteça o que acontecer, comtanto que vingue de um modo bem patente a morte de meu pae.
E quem t'o impede?
A minha vontade só e não a do universo inteiro; quanto aos meios de que disponho, empregal-os-hei de modo que com recursos limitados tire d'elles o maior proveito.
Comprehendo, querido Laerte, que queiras saber a verdade toda a respeito da morte de teu estremecido pae. Mas estás tu resolvido a confundir amigos e inimigos, aquelles que perderam e aquelles que ganharam com a sua morte?
Unicamente os inimigos quero punir.
E queres conhecel-os?
Quanto aos seus amigos, abro-lhes os braços com alvoroço; e similhante ao pelicano que rasga o seio, para com o sangue alimentar os filhos, estou prompto a por elles dar o meu sangue todo.
Ainda bem; fallas agora como bom filho e homem honrado. Sou innocente na morte de teu pae, e deploro-a amargamente; demonstral-o-hei á tua rasão com provas tão claras como a luz do dia.
Deixem-a entrar.
O que é? Que rumor é esse? (Entra Ophelia estranhamente enfeitada com flores na cabeça e palhas entrançadas nos cabellos.) (Continuando.) Meu pobre cerebro! Sequem-se as minhas lagrimas, que, sete vezes corrosivas, queimam meus olhos e afastam d'elles o sentido da vista! Por Deus! A tua demencia será paga com usura, até que o nosso peso faça baixar uma das conchas da balança.