LAERTE

A melancolia, a afflicção, a colera, o proprio inferno, tudo é divino proferido por ella.

OPHELIA

      E nunca mais virá?!
Morreu! morreu! morreu! ai! que agonia!
      Não mais! não voltará!
Era a barba tão branca como a neve:
      Partiu! foi para os céus.
Perdida, inutil dor! Breve, até breve,
      Tem dó d'elle, meu Deus!...

Assim como de todas as almas christãs, assim o peço a Deus, e elle seja comvosco. (Sáe.)

LAERTE

Vêem? Meu Deus!...

O REI

Deixa-me, Laerte, fallar-te no teu infortunio; é um direito que me pertence e que me não pódes negar sem injustiça. Reune em particular os teus amigos mais assisados; elles nos ouçam, e depois julguem entre nós dois. Se culpado me acharem, directa ou indirectamente, entrego-te, em expiação da minha culpa, reino, corôa e vida, e tudo quanto possa dizer meu; no caso contrario, peço-te só paciencia, e de accordo obraremos para te alcançar uma completa satisfação.

LAERTE

Consinto. As circumstancias da sua morte, o seu funeral obscuro, em que nem trophéus, nem espada, nem brazão figuraram, a ausencia de toda a ceremonia funebre no saímento do seu corpo, são como um aviso do céu, que me clama pela voz celeste: Indaga como foi.

O REI

Faça-se pois um inquerito, e o cutelo do algoz puna o culpado. Agora peço-te, Laerte, que me sigas. (Sáem ambos.)