mais facil e favoravel para a sua execução. Se tivesse que falhar este nosso plano, mais valeria nada tentar. Mas é necessario que esta primeira combinação se firme n'uma segunda, que a substitua, no caso da arma se quebrar no primeiro encontro. Um momento... Vejamos. Faremos apostas importantes sobre a respectiva pericia de ambos. Quando, no calor do combate, estiverem afogueados e sedentos, para conseguir o intento não poupes o teu adversario, ataca-o com vigor. Hamlet, sem duvida, pedirá uma bebida; ser-lhe-ha então apresentada uma, de antemão preparada, e uma só gota bastará, se a tua espada te trahir, para conseguirmos o fim desejado. Mas silencio! Que rumor é este? (Entra a rainha.) Que ha de novo, querida Gertrudes?

A RAINHA

Accumulam-se as desgraças, e repetem-se com assustadora rapidez. Laerte, tua irmã suicidou-se, afogando-se.

LAERTE

Onde?

A RAINHA

Na margem da vizinha ribeira cresce um salgueiro, cuja prateada folhagem se reflecte nas aguas crystallinas. Tua irmã approximou-se d'aquelle sitio, sempre tecendo grinaldas de rainunculos, ortigas, malmequeres, e d'essas flores a que os nossos pastores dão um nome bem grosseiro, mas que as nossas castas donzellas denominam poeticamente dedo da morte. Quando procurava ornar com as suas innocentes grinaldas as argenteas frondes do salgueiro, oh! desgraça! descuidosa foi envolvida na corrente, cercada dos ornatos que lhe serviam como de corôa virginal. Algum tempo suspensa pelas vestes sobre a corrente, assimilhava-se á sereia, cantando incoherentes trechos, inconsciente do proprio risco, como se estivesse no seu nativo elemento. Mas tudo tem um fim, e em breve, sossobrando pelo peso das encharcadas vestes, cessou de cantar, e tornou-se cadaver levado pela corrente.

LAERTE

Oh! desgraçada! afogada!!

A RAINHA

Sim, Laerte!