HAMLET

Bebe os restos d'esta taça, incestuoso assassino, damnado dinamarquez. Procura a perola, achal-a-has seguindo minha mãe. (Vasa á força o resto da taça pela bôca do rei, que cáe e morre.)

LAERTE (n'um ultimo alento de vida)

É justo o castigo; morre pelo veneno que preparáras. Hamlet, perdoemo-nos mutuamente, e livres de qualquer reciproco remorso subam nossas almas abraçadas ao céu. (Morre.)

HAMLET

Absolva-te o céu, como eu te perdôo; sigo-te, Laerte (a Horacio) morro, Horacio. Rainha desgraçada, adeus. A vós todos, que ao ver esta catastrophe empallideceis, mudos espectadores d'este drama, se tivesse tempo ainda, se esta ancia terrivel não m'o vedasse, poderia dizer... agora, resignação. Eu morro, Horacio, tu viverás, justifica-me, explica o meu odio aos que o ignoram.

HORACIO

Isso nunca! sou mais romano que dinamarquez, e n'esta taça ainda ha liquido.

HAMLET

Se és homem, dá-m'a; larga-a, por Deus, quero-a. Vive para revelar um tão infame crime. Se alguma vez foste meu amigo, não apresses a tua felicidade celeste e permanece n'este mundo odioso, conta a minha historia. (Ouve-se uma marcha) Que rumor marcial é este?

HORACIO

É o jovem Fortimbraz, que regressa victorioso da Polonia, e que saúda os embaixadores de Inglaterra com esta salva guerreira. (Ouvem-se tiros.)

HAMLET

Morro, Horacio, triumpha o veneno poderoso; nem já as noticias de Inglaterra me é dado saber, mas predigo que Fortimbraz ha de reinar; morrendo, voto por elle; conta-lhe mais ou menos os pormenores da causa da minha morte. O resto... é... silencio... (Morre)

HORACIO

Que nobre alma! Adeus, meu adorado principe, os anjos do céu o embalem com os seus canticos divinos. Mas porque é esta marcha? (Ouve-se uma marcha militar.)