Que te traz por aqui, Ophelia?
Meu pae, meu pae, ainda tremo.
Porque? Falla por piedade.
Querido pae, estava no meu quarto trabalhando em costura, quando de repente deparo com o sr. Hamlet, mas em que estado! as vestes em desordem, o cabello em desalinho, as meias caídas arrastavam pelo chão, pallido e branco como uma mortalha, tremiam-lhe as pernas, o rosto tinha a expressão do desespero, qual profugo do inferno mensageiro de novas horriveis.
Enlouqueceria por tua causa?
Não sei, meu pae, mas receio-o devéras.
Que te disse elle, Ophelia?
Tomou-me os pulsos, apertando-os convulsivamente, depois afastando-se á distancia do seu braço, levando a mão á testa, fitou os olhos no meu rosto, como se me quizesse retratar. Assim se demorou por largo tempo, por fim saccudindo-me levemente o braço, levantando e baixando por tres vezes a cabeça, suspirou tão profundamente, que todo o seu corpo estremeceu, parecia o prenuncio da morte. Feito isto, deixou-me, partiu e desviando a cabeça, como um homem que para achar caminho não precisa o auxilio da vista, transpoz a porta; mas então o seu olhar estava fito em mim.
Segue-me, filha, vou procurar o rei. É o delirio do amor; a