Nada me admira, sendo meu tio rei de Dinamarca. Os que o evitavam em vida de meu pae, pagam agora o seu retrato em miniatura, por vinte, cincoenta e cem ducados. Por vida minha que ha alguma cousa sobrenatural em tudo quanto presenceâmos, e que em verdade a philosophia devia esmerar-se por descobrir. (Ouve-se o som de uma musica de clarins ao longe.)
Chegam os actores.
Senhores, bemvindos sejam em Elsenor. As suas mãos que eu as aperte. O que distingue um bom acolhimento são os cuidados e as attenções polidas; deixem-me recebel-os assim para não parecer que a cortezia para com os actores, com os quaes é minha intenção ter a maior, ultrapassa a que lhes testemunho pessoalmente aos senhores. Bemvindos sejam, mas o tio que tenho por padrasto, e a mãe que tenho por tia estão completamente enganados a meu respeito.
Em que se enganam elles?
Só estou louco quando o vento sopra do nor-noroeste, em soprando do sul, distingo uma garça de um falcão.
Saudo os senhores.
Escuta, Guildenstern, (a Rosencrantz) e tu tambem: a bom entendedor meia palavra basta; esta creança que vêem ainda usa coeiros.
Talvez que os torne a usar; a velhice é, segundo dizem, uma segunda infancia.
Aposto que me vem fallar nos actores; vão ver. Tem rasão, senhor, foi effectivamente na manhã de segunda feira.