Página:Herculano, Alexandre, História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal, Tomo I.pdf/193

inquisidores diziam querer só algumas declarações, foram entregues com todas as prevenções exigidas, e dando juramento o familiar ou esbirro que os veio receber de que ele proprio os restituiria à pátria adotiva, sãos e salvos das garras do Santo-Officio[1]

Aproveitando estas circumstancias favoraveis, os cristãos-novos tentaram desarmar os inimigos pelos actos da vida externa. Guardavam restritamente as formulas do culto catholico, que é de crer o maior numero delles não seguisse na vida privada. Buscavam ligar seus filhos por casamentos a familias de cristãos-velhos, adquirindo assim alliados e defensores entre os proprios adversarios. Muitos íam abrigar a sua existencia futura á sombra do altar, dedicando-se ao ministerio sacerdotal. Se, em secreto, alguns destes continuavam a seguir a lei de Moysés, aquelle arbitrio era um sacrilegio; mas a responsabilidade de semelhante crime não recahia sobre elles, recahia sobre os hypocritas ou fanaticos cuja intolerancia sanguinaria constrangia uma raça timida e fraca a praticar tais actos. Longe de procurarem pôr a

  1. Vejam-se os Doc. do Corpo Cronol., P. i, M. 9, N.os 37, 41, 47.