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nuncio. — Esforços de Duarte da Paz em Roma e procedimento singular da corte portuguesa. — Breve de 17 d'outubro de 1532 suspendendo a Inquisição. — Enviatura de D. Martinho de Portugal.— Deslealdades mutuas. — Villania de Duarte da Paz. — Estado da lucta nos principios de 1533.


Fallecido D. Manuel em dezembro de 1521, succedeu-lhe D. João, seu filho mais velho, que ainda não contava vinte annos completos. Os chronistas que escreveram debaixo da influencia dos immediatos successores deste principe, tendo diante dos olhos o latejo da censura, pintam-no como dotado de alta intelligencia e de qualidades dignas de um rei. Durante a vida de seu pae muitos havia que o conceituavam como intelectualmente imbecil ou que, pelo menos, o diziam[1]. O proprio D. Manuel mostrara receios do predominio que, em tenra idade, exerciam no seu espirito homens indignos[2]. O que é certo é que, ou por distracção ou por incapacidade, nunca pôde aprender os rudimentos das sciencias e, nem sequer, os da lingua latina[3]. Durante

  1. Sousa, Annaes de D. João iii, P. 2, c. 3 e 4.
  2. Goes, Chron. de D. Manuel, P. 4, c. 26. Osorius, De Reb. Eram. L. ii.
  3. Sousa, Annaes de D. João iii, P. i, c. 2. — Faria e Sousa. Europa Port., T. 2. P. 4. c. 2.