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commendava a D. João iii nunca escrevesse, excepto no caso de extrema necessidade. Desejava obter a certeza de que esta carta, que só elrei devia abrir[1], chegara ás suas mãos; mas, para isso, pedia-lhe que ordenasse a D. Martinho de Portugal lhe dissesse, a elle Duarte da Paz, que mandasse entregar em Lisboa ao procurador de sua alteza o cartorio que estava a seu cargo. Esta communicação do novo embaixador sería a senha de que fora entregue a missiva. O ultimo conselho que dava a D. João iii era que dissesse muito mal delle, não só em publico, mas, até, em particular. Num postscriptum rogava-lhe que queimasse a carta que lhe remettia inclusa, escripta por uma alta personagem, carta que devia ser importante e que o converso confessava ter furtado a seu proprio pai[2]. Terminava pedindo a elrei não o culpasse por ter vindo a Roma e por continuar a requerer o perdão dos christãos-novos; porque o faço —dizia elle — cuidando que sirvo nisso a vossa alteza[3].

  1. O sobrescripto é: «A elrey nosso senhor — de muito seu serviço pera a S. A. abrir.
  2. «Esta carta do duque (provavelmente o de Bragança, D, Jayme) furtey a meu pae; mande-a V. A. queimar». Ibid.
  3. Ibid.