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provavelmente gratuito; mas é certo que se dava em Ghinucci uma circumstancia que legitimava a sua má vontade ás cousas da Inquisição. Contavam-se com horror as atrocidades daquelle tribunal em Hespanha, atrocidades que já em outro tempo haviam obrigado Leão x a tomar, ou a fingir que tomava, severas providencias contra elle. O nome de Lucero tinha-se tornado proverbial em Roma como compendio de crueldades, e Ghinucci estivera embaixador em Castella, d'onde trouxera uma especie de memorando dos abusos que a Inquisição ahi practicava[1]. Como fiel da balança, restava o auditor Simonetta, ácerca de cuja probidade e intelligencia ha testemunhos insuspeitos[2]. Foram em varias conferencias ouvidos os embaixadores, e das

  1. «As tiranias que aqui estão cridas da Inquisição de Castella... que não ha lá (em Portugal) Luzeiros»: Carta de D. H. de Meneses, cit. — «A Inquisição de Castella, de que falla todo o mundo»: Carta de D. Martinho de 14 de março de 1535, l. cit. — Llorente, Hist. de l'Inquis., T. i, c. ii, art. 5. — Carta de Santiquatro de 14 de março, cit.
  2. Além do que a favor de Simonetta se pôde deduzir do Memoria] dos christãos-novos, no vol. 31 da Symmicta, e da qualificação de bom homem e letrado, com que o carncterisa D. Henrique de Me-