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arcebispo persuadia o seu collega de que não convinha usar por emquanto das ultimas instrucções enviadas de Portugal, nas quaes, segundo depois affirmava o cardeal Santiquatro, havia concessões e propostas que tornariam possivel o vir o pontífice a um accordo favoravel[1]. Porventura, contava com que a demora de tres mezes, que secretamente se lhe recommendara posesse na conclusão do negocio, suppondo que o pontifice accedesse ás novas supplicas, lhe serviria de desculpa da demora, ao passo que na realidade desservia a causa em que estava officialmente empenhado. Quanto mais Santiquatro assegurasse a prompta acquiescencia de Paulo iii ás novas instrucções, melhor se defenderia, depois, de ter retardado a epocha de communicar a materia dellas. Assim, fingindo o excesso de zelo na sua correspondência com elrei, mostraria, por outro lado, obediencia cega ás ordens secretas que recebera.

Este procedimento era tanto mais torpe quanto é certo que estava imminente uma importante peripecia daquelle variado drama. Ir-

  1. Carta de Santiquatro a D. João iii de 16 de dezembro de 1535, na G. 20. M. 7, N.° 1, no Arch. Nac.