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bem que este o mandasse assassinar e lançá-lo no Tibre, ou que o envenenasse, factos de que sobejavam em Roma mais estrondosos exemplos, accrescentando que se poriam de pois as culpas aos christãos-novos[1]. Em consequencia disto, pedia a elrei que ordenasse quanto antes a sua retirada de uma corte, onde não só faltava a segurança pessoal, mas também se fazia tudo descaradamente por dinheiro, sendo os menos esbulhados os que sabíam conduzir os negocios com maior astucia[2]. Rompendo, emfim, os diques a um silencio, que, levado mais longe, sería criminoso, D. Henrique, instruído naquelle mesmo dia de que a bulla de perdão a favor dos conversos se passara e ía expedirse para Portugal por um mensageiro de Duarte da Paz, a fim de ser promulgada, denunciava explicitamente os meneios occultos do arce-

  1. «porque qua ha um Rio, a que chamão o Tibre, onde já se lançaram muitos homens melhores qu'eu, e ha tambem peçonha com que se despacharão outros mais honrados; e darão a entender que christãos-novos m'o fizeram»: Ibid
  2. «De maneira que, como em Tutuão, ou co xarife, acabey este resgate por muito pouco dinheiro; porque assi se fazem os resgates com alfequeques»: Ibid.