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haviam substituido e, talvez, alguma imprudencia que o trahisse, obrigaram-no a desmascarasse e romper, emfim, com os seus antigos clientes. Dirigiu pela imprensa uma carta ao papa, na qual ressumbra todo o fel do despeito, através da linguagem meliflua de um hypocrita. Nessa carta buscava demonstrar que se devia impor a pena de confisco aos sentenciados pela Inquisição, ainda suppondo que não fosse este o direito commum; porque, na opinião delle, os hebreus, que não deixariam de judaisar por temor da morte, deixariam de o fazer por amor das riquezas. «Um judeu — dizia elle —tem em mais estimação algumas alfaias do que a vida e a honra». Lembrava, como prova da conveniencia de os reduzir á miséria, a promptidão com que recorriam á corrupção dos ministros públicos, não só contra os extranhos, mas tambem contra os da propria raça e, até, contra os seus parentes mais proximos. «Para elles — proseguia o antigo agente dos conversos — não ha perigo ou trabalho, vileza ou crime que não lhes pareça leve quando se tracta de

    sajem e a dos outros que se esperam»: Carta de D. Pedro Mascarenhas de 2 de dezembro de 1539. Corresp. Orig., f. 199.