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causa que occultamente servia era favoravel. Aproveitou-o. Protrahiu o mais que pôde a viagem, e quando, emfim, chegou a Lisboa ainda se conservou escondido alguns dias sem entregar a bulla e as cartas que a acompanhavam. Era, pelo menos, assim que depois em Roma o agente principal dos conversos explicava a tardança que houvera na entrega daquelle importante documento, o que concordava até certo ponto com as declarações feitas a este respeito por Capodiferro depois de voltar a Italia, embora D. Pedro Mascarenhas, cujas tendencias não eram para a excessiva credulidade, suspeitasse de pouco exacta semelhante narrativa, e ainda menos acreditasse as explicações do nuncio[1]. Fosse como fosse, o diploma pontificio, cuja concessão custara tantos e tão dilatados esforços, além de avultadas peitas, ficou inteiramente inutilisado. Na verdade, o breve que exonerava Jeronymo Ricenati, longe de lhe lixar o praso para sair do reino do modo promettido em Roma, deixava, como dissemos, a seu arbitrio a epocha da partida; e tanto, que, intimado, segundo parece, pelo go-

  1. Carta de D. Pedro Mascarenhas de 9 de março de 1540, na Corresp. Orig., f. 211.