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alvo a que deviam tender agora lodos os esforços dos parciaes da Inquisição.

Vimos como D. Pedro Mascarenhas, ponderando os obstaculos que se oppunham a que o infante exercesse a suprema magistratura do tribunal da fé, aconselhava a D. João iii que cedesse nesta parte. Não foi acceito o conselho. Longe disso, a 10 de dezembro de 1539[1] elrei escreveu uma carta dirigida ao embaixador, mas cujo verdadeiro destino era ser lida perante o papa, carta onde as ameaças indirectas se misturavam com as expressões mais submissas de obediencia filial e com os queixumes mais sentidos da falta de affeição e confiança da parte do summo pastor. D. João iii attribuia a resistencia deste a ter dado mais credito ás falsas informações dos conversos do que á sincera verdade da palavra real, e procurava principalmente mostrar quanto era absurdo imaginar que elle rei procedesse como procedia por outro motivo que não fosse o zelo da religião. E' extrema a

  1. A minuta dessa carta acha-se a f. 37 da Corresp. Orig. sem data; mas a f. 265 está copia da versão della feita por Santiquatro para ser lida ao papa. Nesta copia encontra-se a data de 10 de dezembro.