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passar, lhe foram no encalce. A pouca distancia esperava-o o proprio D. Henrique escolta do por cinco de cavallo. Perguntou-lhe o infante para onde ía: respondeu que para Valhadolid. Mas o inquisidor-mór estava plenamente informado de quem era, para onde ía e com que fins. A resposta ás suas negativas foi prenderem-no e conduzirem-no para a Landeira, onde o despojaram de quanto levava, dinheiro, joias e cartas[1]. Abriu estas o infante, leu-as e remetteu tudo para Lisboa com o emissário preso. Tendo, porém, chegado á capital alta noite, e aproveitando a circumstancia de vir acompanhado por um só homem, no meio das trevas Heitor Antonio alcançou evadir-se pelas ruas enredadas e tortuosas da velha cidade. Nessa mesma noite passou de novo o Tejo, e atravessando por caminhos escusos, pôde transpor a fronteira, e salvarse[2]. As particularidades da narrativa abonavam-na de verosimil. Dando conta a elrei daquellas occorrencias, o embaixador fazia sentir com arte, não só que estava persuadi-

  1. «lhe tomaram a malla com iodas as cartas que trazia e huns cemto e tamtos cruzados e certos anneys»: Ibid.
  2. Ibid.