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guês com quem D. Miguel podia ir de aecordo na empresa. Era elle o medico Ayres Vaz, ao qual a Inquisição tivera o desaccordo de consentir fosse justificar-se em Roma. Alli, Ayres Vaz achara em Paulo iii um sectario da sciencia astrologica, e o papa e o hebreu vieram brevemente a unir-se pela simpathia que nasce da identidade de estudos e opiniões. O pontífice fez Ayres Vaz seu clerigo, familiar e commensal, e para mostrar o apreço em que o tinha, expediu uma bulla na qual exemptava da jurisdicção dos inquisidores, não só todos os parentes, ainda os mais remotos, do seu collega em astrologia, mas até os advogados que em Lisboa o haviam defendido perante o tribunal da fé, bem como as suas respectivas familias[1]. Com as esperanças que nasciam destas duas influencias, que parecia deverem ser efficazes, e do rompimento entre elrei e o papa, os agentes dos conversos podiam empregar com probabilidade de bom exito novos esforços para se melhorarem nesse rude combate de vida ou morte, que com elles se travara. Incitava-os não só a opportunidade do

  1. Bulla de 6 de junho de 1541 incluida em outre de 15 de março de 1542, no M. 37 de Bullas N.° 49, no Arch. Nac.